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E eis que as mulheres da nossa vida, a ex-esposa, a própria mãe, as amigas e ex-amigas, estão agora amalgamadas: não é fácil saber onde com- -eça uma, onde termina a outra; o que se disse a tal, o que se ouviu de qual, e quem foi que deu de presente aquele anel, aquela camisa. Aquele beijo, aquela flor de carne. Aquele rancor foi por qual delas? A Amada.

A Amada agora é um acervo uno e cindido, -- qual Eco e Narciso, dúbios duplos, múltiplos e reunidos na mesma ensimesmada sina. Há um destemor de tudo: da morte, da solidão, da doença -- esta que talvez por isso nunca me visite. Plange um pacto solene com a liberdade: liberdade sem limitações. Nada mais de chefes, chefetes, horários a cumprir. Vida apenas fluindo, confluindo ou não, tempo redescoberto, dia e noite apenas. Coisas: o livro publicado, o livro autografado; a máquina de escrever, os cachimbos; o retrato da bailarina do ventre, o da repartição partida, o do colégio. E no imo das coisas uma Presença que não é deus, nem é potência pura, intangível. É algo mais afim do tato, do gosto e de um silenciar que não segreda. Igor Buys 12 de março de 2009

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