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ENTREVISTA

DE 30 DIAS

 Entrevista de trinta dias corridos à  editora, colunista e atriz Marina Cervini

AMOR E DOR

Marina Cervini: Igor Buys, como o amor é retratado em sua obra?
 

Igor Buys: Marina, essa pergunta é muito oportuna, pois rende ensejo a um comentário importante para quem ainda não leu “Versos Íncubos”. Não se trata de um livro de poesias eróticas. Nele predominam, e têm um destaque especial no estilo de divulgação que nós escolhemos fazer, as poesias de amor com um enfoque erótico e sensualista, entre as quais as que apelam ao fantástico. Entanto a temática amorosa é tratada também, subsidiariamente, como está dito no booktrailer, no “book proposal”, de outras formas, mais singelas e psicológicas; há, por exemplo, em algumas poesias, o flagrante dos momentos de conflito e solidão inerentes ao enleio amoroso.  

 

Um poeta da MPB escreveu algo que eu mesmo gostaria de ter escrito: que “o amor é quase uma dor”. Ainda outro dia, dizia isso a uma amiga. Tudo dói muito no amor; a ansiedade e inseguranças, antes; a saudade, depois; o ciúme, durante todo o processo, mesmo que a gente se habitue e se condicione a afastá-lo, racionalmente. Mas, sobre o ciúme, especificamente, às vezes, essa racionalização e blindagem do coração são fáceis; noutras, por quaisquer razões..., são muito difíceis, árduas, constantemente sofridas. Para as mulheres, há a dor do parto, há a dor que prenuncia o mênstruo e o período fértil. E, para ambos os sexos, o ato em si é quase uma dor, uma sofreguidão crescente até o momento do extasiar-se. Então, tratar o tema amoroso com uma roupagem Coca-Cola, do tipo: “oba, vamos amar que isso é uma delícia!”; “ame de manhã, de tarde e de noite: eis a panacéia absoluta”; tudo nessa linha é cafonice. Cafonice liberal, inclusive: como diz o João Lennon: “[They] keep you doped with religion and sex and TV”. E todo mundo tem que repetir, em coro: “sexo é maravilhoso, amor sexual é maravilhoso, eu adoro, eu adoro...”. Como adoram também o consumismo sem freios, esses oligóides demenciais. E adoram se drogar.

 

O amor é como a luz: praticamente impossível de predicar: não é maravilhoso, exceto em momentos muito especiais de visão; é, sim, fundamental: é o que está aí, na vida, dando forma a esta e ao mundo. O amor e a luz são assim. Mas a luz cega, se se olha diretamente para a sua fonte e o amor, bem assim, dói, se se o encara integralmente. Porque olhando a vida de esguelha e anestesiando a alma, aí, já fica fácil. Mas não satisfaz, por muito tempo.

Algum dia, pode ser que escreva um livro que tenha por centro o amor como compaixão; mas, em “Versos Íncubos”, e na minha obra, como um todo, até aqui, pelo menos, — que é bem maior que o livro em questão —, falo do amor erótico, carnal. E com uma perspectiva que pretendo não-ingênua do que sejam carne e erotismo. Sobre isso, podemos conversar, noutra oportunidade. Só não posso, ao escrever sobre esse tipo de amor, o amor de amantes, deixar de arrostá-lo também na sua inevitável tragicidade, no que contém de terrível.

 

08 de maio de 2014

 

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