MARIPOSA E AMAVIO
De uma espécie de mariposa
o macho pode sentir o cheiro
da fêmea a dois quilômetros.
E há de ser-lhe avassalador,
quando, de perseguir tal rastro,
tênue nas distâncias, por fim,
encontra, incendiada: a fêmea,
a bruxa que é fonte do amavio.
Assim desvendo os teus sinais,
os perco aqui, e ali redescubro;
e me arrojo, através de paredes
de concreto e tempo, manhãs
e noites adentro, à tua procura.
Magia é achar a porta do teu
quarto pênsil sobre o horizonte,
adentrá-la... tocar o teu corpo,
tocar a química do teu sangue;
com a hipótese da boca na tua
pele de leite e lua, arrepiar-te.
E, se magia já se faz possível,
o que então nos é impossível?
O que me impedirá de pousar
a testa sobre a tua testa, amor.
E me afundar nos teus olhos;
voar o céu de um sonho uno,
transformados, nós, numa só
falena a pulsar, que nos eleva.
Igor Buys
In Versos Íncubos, 2014