CONTORCIONISTAS
Que bom encontrar esse teu sorriso
no meu passeio matinal até a cachoeira.
A cachoeira de petróleo e dourados
não sabia se eu acordara cedinho
ou se vinha a ela chegado da esbórnia.
Mas escondeu os seios nus sob esses
cabelos de negro e dourado a jorrarem,
olhou por cima do ombro, levantou o queixo.
A cachoeira morena sabe todo o teu jeito.
As águas contorcionistas são capazes de
pousarem as solas macias dos pés sobre
o alto da cabeça; e amar na posição da
bailarina; na da Rainha -- aquela que tentei
patentear, mas já existia no Kama Sutra --;
as águas faceiras, fogosas sabem as
curvas do teu sorriso, teu busto, teu quadril.
Duas esmeraldas luzindo em meio Àquilo
me fascinam e convidam… Mas eis que
o sol de supetão rasga a lingerie da noite.
E, como era feita de petróleo e brasa viva,
agora explode em esplendor ofuscante!
-- labaredas, panteras, feras! -- o que há pouco era...
Era a minha cachoeira, a minha doce ilusão.
Igor Buys
Ilha Grande, 19 de fevereiro de 2020