TUA CASA
Só sei que estou vivo porque te posso sentir viva,
palpitante; porque posso adentrar a tua casa, quente,
densa de perfumes longínquos, mas íntimos e fortes.
Só sei que sou criatura da Terra e não Marte ou
da morte, só sei que isto é sonho e não dormência;
que arde sangue rubro em meu peito e faces,
porque tu estás nele e essa mesma febre pode tocar
o teu seio, o teu sono, rorejar tua nuca sedenta.
A distância e a proximidade formam um só amálgama:
não há como pensar ou crer uma, senão por meio d'outra.
E, assim, estás tão próxima e tão distante como o sol,
o mar viajante que nos abraça, a saudade, a memória,
Deus e a esperança.
Só sei que estou vivo porque te tenho impunemente,
e me tens em ti sem permissão nem luta, sem remédio,
sem medo nem médio termo.
Eu te adentrei a vida como o dia invade a noite, mais
e mais, sobre um lençol de mercúrio e cobre fundido.
E só por isso estou vivo. Amo e morro, logo existo.
Igor Buys
Ilha Grande, 04 de fevereiro de 2020