BRAILE
O teu silêncio cala algo dentro de mim.
No meu olhar, no meu modo de perceber o mar,
a brisa, a areia gelada sobre a orla, a pegada desa-
pegada de sua forma… A passada,
passada,
passada
O teu silêncio cala algo no meu olhar.
O mar, sua respiração, sua permanente mutação,
suas nuanças de verde, de âmbar, castanho e dourado.
Essas águas cujas mãos loucas te tocam inteira,
percorrem as tuas formas, recriam as tuas curvas e
viajam, viajam até aqui só para me as trazer nuas,
e me as fazer beber e afogar, incendiando a minha sede.
O teu corpo.
O teu corpo de crepúsculo moreno, cálido, salobro.
O mênstruo da poesia no horizonte encarnado.
E, finalmente, a ausência do teu corpo em cristal azul,
pisando, estilhaçando labaredas negras, gotas lilases;
sorrindo, rindo, brincando, me atirando outras gotas lilases.
O teu silêncio está imenso agora,
repleto de estrelas e arcanos
que meus olhos, meus dedos tentam ler
sem conhecer os segredos desse braile.
Igor Buys
Ilha Grande, 27 de janeiro de 2020