HÉRACLES E O CENTAURO
Fico com as turistas efêmeras, alemãs, francesas, ianques; com as prostitutas sinceras da Barra à beira-mar. E com a Ausência, azul, dourada..., negra. Abissal. Esta cujo abraço fúnebre vai-me tornando dia a dia mais ausente também. E afim do Negro, do Nada, do Nunca.
Eu não sou desse mundo, eu não piso esse tempo, essa época.
Não aceito esse sistema, suas ideologias, seus autômatos.
Eu renego o trabalho, o ser uma engrenagem do roubo; renego o professor-feitor do patriarcado falido; a Human Rights, a doutrina da globalização.
Eu escarro na uniformização. Toda uniformidade é deformidade.
Não há verdades internacionais.
Tudo o que fiz e não fiz na vida foi direcionado a vencer esse sistema de mundo, essa Era da Involução humana e planetária.
Não produzir, não trabalhar, consumir apenas o aceite por mim mesmo como furto famélico ou pecado da carne.
Como um feito de Héracles, nada menor, foi a minha vitória, o meu orgulho! Viver e sobreviver invulnerável afora da trama de todo um tempo de corrupção absoluta.
Fico com a Ilha. Com a Lagoa Verde, sua ninfa morta e catasterizada. Até que também se di-lua ou me dis-sol-va a mim...
Fico, então, na Enseada das Estrelas, no Saco do Céu.
O Bem é comer quando se tem fome e dormir quando se tem sono.
Igor Buys
Ilha Grande, 12 de julho de 2019
Reprodução: Héracles e Nesso, por Giambologna