DO NOSSO AMOR PREAMBULAR
Encontro-te a ti na sala. Sentada no sofá.
Uma maçã presa entre o queixo e o joelho.
Um pé pisando o assento, o outro a beijar o assoalho nu.
Sento-me na mesa de centro de frente para ti.
Seguro teu pé .Passo a língua sobre a maçã,
tão rubra, e sobre teus lábios; sobre a maçã,
sobre teus lábios doces, simplesmente róseos.
Baixo os olhos, seguro teu pé também
com a outra mão, metendo por baixo
do teu calcanhar de leite, deleite.
Tal mão quase roça a flor de hibisco
da tua feminilidade. Quase, apenas
quase. A caricio a parte de baixo de tua
coxa com as costas dos dedos, suavemente.
Olhos nos olhos..., perco algum lapso.
Algum lapso do tempo a singrá-los.
Mordo a maçã. Mordo teu lábios,
ainda a mastigar.
Tomo o pomo suculento de ti.
Cruzo as pernas nas tuas em lótus.
Roço o rubro contra o róseo, amas-
sando teu lábio, prendendo-o ao queixo.
"Morde, amor".
Beijo tua boca de bochechas cheias.
E beijo de novo, antes que possas
engolir. "Morde outra vez, vida".
Outro beijo, outra mordida rubra
e rósea. Olhos nos olhos... Tanta luz.
Vou buscar algo na cozinha.
Trago leite morno na garrafa térmica
e outras cousas envoltas em vime.
Passo o leite morno a um copo
cada vez mais alvo qual teu corpo.
"Toma, bebe". O leite passa pela tua
glote. Glote. Perto do fim, viro o copo
propositalmente rápido demais
e o leite morno
escorre
pelo canto da tua boca,
pelo teu pescoço,
teu colo,
adentra tua blusa
sob que se cola o teu mamilo
encharcado de brancura.
Tiro do cesto de vime
outra garrafa térmica
com água aquecida para chá
e um pano seco de que
faço uma trouxa na palma.
Passo o pano com água aquecida
pelo teu rosto,
colo, saboneteiras,
abro um botão da tua blusa,
meto a mão adentro e limpo
o teu mamilo sem tocá-lo,
senão com a bola de pano.
Limpo por fora do mesmo modo
o tecido inda mais transparente.
Uma banana da terra.
Não se a come senão cozida.
Descasco o fruto, corto-o
numa porção retilínea.
Introduzo o fruto no pote
de mel. "Abre a boca".
Chupa". Roço o fruto teso
na pétala rósea desse lábio.
"Fica de quatro, amor".
Introduzo a banana até
a tua garganta. Tosse, tosse,
então. E alteia bem o queixo
e a nuca. "Respira quando estiver
voltando e inspira quando, indo".
Ponho a mão sob tua garganta
amada, cobiçada por dentro
e por fora para sentir o fruto
a ir e vir, ir e vir, inchando-a,
desinchando-a, enchendo-a,
abandonando-a. Tua garganta.
Sento-me ao sofá e te ponho
no colo. Levanto teu queixinho,
teus cabelos jorram com a aurora
sobre o meu braço, por toda a sala,
por todo o mundo extasiado de cobres.
Bebo essa garganta, essa goelinha
que, há pouco, firmava o pomo;
bebo teu pescoço de nata pura,
cada músculo delgado e longo,
beijo tua testa, tua pálpebra.
Igor Buys
Ilha Grande, 22/23 de março de 2019
Duda Ruiz
