TEREMOS UM CONTRATO
Teremos um contrato
registrado em cartório:
só eu posso tirar os teus sapatos.
Haverá câmeras e uma multa
pecuniária prevista. Só eu posso.
Se eu estiver ocupado, esperarás;
se demorar, insistirás, e insistirás
com muito charme.
Só eu posso tirar os teus sapatos.
Abrir a fivela da sandália,
da sandália exausta, suavemente
perfumada pelo teu suor e cansaço.
Remover com os lábios, a língua
a marca rosada, malvada, deixada
em baixo-relevo sobre teus tornozelos
pelo fascinante objeto, -- que algema,
que esconde, que mostra,
que produz curvas à Niemeyer,
que faz caminhar sobre as águas
-- ainda que água nem haja, duplo milagre --,
e faz pisar para dentro, felinamente.
Fascinante objeto.
Quem terá inventado uma coisa tal?
As dos gregos eram tão mais simples.
Remover, lentamente, a alça de sobre
o teu calcanhar; pôr a mão entre a curva
da sandália e a curva do teu pé, morna, leitosa,
longinquamente umectada.
Teremos um contrato.
Haverá câmeras.
Igor Buys
Ilha Grande, 17 de março de 2019
JIsabella Santoni
