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CANOA AFOGADA

Canoa afogada em areia. Há pouca coisa mais triste do que estás agora. Afora, um mar, um sol, um céu de chamas vociferam fulvos e revoltos! e entanto estás aí, assim, tão seca

que mal ecoas o vaivém ma-

rítimo do meu verso amigo; imota jazes, fria e fosca,

como corcha milfurada entre fungos,

entre conchas de faca a te ferirem. Canoa engasgada de vidro moído, sorriso de múmia; canoa estripada e largada à beira de tudo que vadia e late: um cão urinou-te o cadáver teso. Um menino riscou ali seu brasão plebeu. Bárbaros e bêbados te repisaram e dormiram sonhos salobros na tua carne. Olores castanhos, adocicados: ai pétala crestada e feia! Bela, deprimente; empática é a tua dor. E a gaivota e o siri desfilam à tua volta. Igor Buys 18 de julho de 2010 / 05 de dezembro de 2018

Duda Ruiz; foto roubada

Maria Eduarda

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