TULPA
Percebe que o teu corpo sobrepaira
o corpo outro e mesmo, pesado,
muito pesado e dormente sobre a cama.
Assenta-te em posição de lótus.
Principia a esculpir o meu — tulpa.
Lívidas, lunares as tuas mãos o moldam:
os peitorais, os ombros, o falo de sombra.
Pêlo após veia saltada, e nervo, o conformas,
todo teu, secreto e teu, como tanto o desejas.
E uma voz se expande do coração do teu
coração: uma voz profunda e penetrante,
a invocar o meu nome dentro da noite!
É a voz mesma da menina que se perdeu
da mão do pai e, súbito, estava só entre
pernas que cresciam, de todos os lados.
A menina gritou assim, bem assim,
— tu te lembras? — como grita ainda
o teu coração, dentro da noite chuvosa.
E me pedes: Vem!... As mãos erguidas,
as palmas azuladas sob o clarão da lua
que adentra pela janela: Vem!...
Vem ganhar vida aqui, minha estátua
de cristais azuis e negro coração calado!
Extenuada já, te deitas, e quase retornas
ao corpo quedo e outro, teu e mesmo,
abaixo.
Mas eis que meus lábios encontram,
enfim, a tua nuca rorejada de saudade.
Meus beijos aquecem a tua face e minhas
mãos agarram teus seios, e os desnudam.
É tempo do abraço que se não desatará:
tatuagem de nós dois sobre a pele de Deus!
Marcarei coa minha energia uma cruz
sobre o teu cenho e pálpebras, amor.
E durante o dia, quando latejarem as tuas
têmporas, sabe: a noite está chegando
e serei teu: apenas clama o meu nome
coa voz menina do teu coração em chamas.
Igor Buys
03 de julho de 2013
Kristiana Pelše
