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SÓ PRA CONTAR UMA HISTÓRIA SOBRE A LUA (OU A CONHECIDA LENDA DA VITÓRIA-RÉGIA)

Os índios sabiam contar que a Lua,

quando sumia do céu, trás os morros, descia à cata de moças, as mais puras,

a que fazer estrelas na imensidão:

suas eternas, imortais daminhas

E assim não se imagina sonho mais belo

por que uma índia moça, de coração pio,

houvesse de suspirar nas noites claras

Naiá, filha de um chefe, quis ser da Lua.

Quis ser escolhida pela deusa e feita luz.

Dizem que se pôs até obsessiva, aloucada,

madrugada adentro a perseguir o astro,

que azulava o verde negro com seu rastro

e deitava um céu de engano sobre as águas

E foi esse o engano de Naiá, seu destino:

viu de pé no lago, pertinho, a Lua que viera,

viera por certo buscá-la! e, ai, agoniada,

mergulhou para os seus braços,

seus abraços,

em anéis, anéis...

Mas a história rodou mundo até chegar

à Lua condoída, cujos dedos jorram leite.

E, toda noite, do espelho d’água, — alva

aprendeu a se abrir: a flor da vitória-régia.

Igor Buys Rio — Ilha Grande, 31-10-12 / 31-01-18

Lua azul de sangue do dia 31 de janeiro de 2018; da sacada do escritório

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