SÓS E NUS (ABELHA/ABELHA)
Todos nós estamos sós na vida.
Todos nós estamos sós e nus.
Já se disse que as cidades
são grandes desertos, todas elas.
Já se disse, decerto, que todo mundo,
— todos, sem exceção: estão sós e nus,
vagueando por sobre desertos,
conquanto a pisarem a rua comum.
Você me disse qu’eu estaria mais só.
Mas todos deveras estão sós e nus
e isso nem sequer é tão ruim.
Nada por que clamar o socorro dos elfos.
Nada por que temer e acorrer
aos justiceiros, aos juízes-xerifes,
aos supermeganhas.
Outra menina — inda mais tenra na vida,
fez-me ouvir uma canção que dizia:
talvez eu seja a menina que vai te amar...
Todo mundo está só consigo.
Mas a solidão e o ar só os sente
quem não tem coragem de sentir as coisas.
A folha desceu pelos ares.
O pássaro se atirou dum galho trêmulo.
A gota não se desprendeu da pétala...
A teia de aranha rorejada.
O arquejo dum carro (longe...)
O estado em que os sentidos,
como lupas de ouvir e cheirar,
começam a agigantar o ínfimo,
o tênue. A abelha de cobre, estrá-
bico bicho...
abelha/abelha
abelha/abelha
Abelha.
Levanto-me.
A areia na meia; o sol na nuca.
Todo homem está só na vida.
E nu. E isso não é nenhuma maldição, meu bem
senão o que significa: tornar-se adulto.
Igor Buys
29 de agosto de 2011 / 07 de maio de 2017
Imagem paga (do acervo do hospedeiro)