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DAFNE

Branca.

Intensamente

franca

como a entrada

duma gruta.

Muda.

Indecifrável.

Janela aberta

a um nevoeiro

lento

quase frio

em meio ao qual

movem-se

fantasmas

formas vagas

diluídas.

Que aos poucos

ganham vida:

transfogem

da calma

para a alma!

a chama

o drama.

Fêmea.

De algum modo

fêmea,

ela reluta

resiste

e súbito

cerra as cobiçadas

coxas, ai!

antes mornas

e agora gélidas

como o mármore

impenetrável

liso. Noite.

Noite

que abraça as horas.

Ânsia.

Dedos que se estalam

a si mesmos

ensimesmados;

caneta nervosa

intumescida

irmã da seta

de Apolo

deus que amou

Dafne

e esta

em desespero

sem mais recurso

para Lhe fugir

volveu a árvore...

E celulose.

Cumpre então

insistir (mas com

cuidado...)

E horas se passarão

antes da vitória.

Até que enfim!

Ah...

O sangue

do rubro, do anil

do vermeil

do âmbar

já borram sua face,

ah!...

enfim.

E ei-la:

maquiada

noiva

argenta

entre arrozes

luzes

e rosas loucas;

ei-la

desabrochada!

aberta e dada

hum, desvirginada...

Enfim.

Mas o amor

fugaz sabe ser,

e toda cor se esvai,

toda aquarela

de ardente poesia

torna ao caos,

ao branco

ao cessar

o olhar

de fixá-la.

Madrugada já;

o sono convoca

o poeta

exausto, saciado

satisfeito;

e a folha

toda riscada

fica

fria

ali

cheirando ao coito

e à tinta.

Igor Buys

(heterônimo Rodrigo Penna Arruda)

10 de março de 2011 / 01 de março de 2017

Foto roubada da modelo Stefany Basso

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