CORDAS
As cordas da chuva
que o meu pensamento escala
conduzem a futuros
pretéritos, a passados insepultos.
É Natal e já ninguém crê em mágica.
É verão e já nem todos sorriem
dourados de sol e alísios.
As cordas.
Raramente escrevi sobre ti.
Não obstante, penso naqueles dias.
Foram reais demais para o verso
os nossos beijos de terra molhada,
as nossas noites de esconderijo,
vozes desnecessariamente veladas.
Foi tudo tão simples e limpo
como a luz, que não se explica,
não se divide em menores partes.
Descobri o tempo catasteriológico
nas minhas andanças últimas
pelo sem chão acima.
Sim: lá onde as coisas foram, são
e serão de novo, indefinidamente,
a nossa história é uma constelação.
Nela há uma Balança, ou Borboleta.
Ou senão só dois corpos que pulsam
Nus e, de algum modo, sós no infinito.
Difícil caber o real no quando,
no possível: no inverso.
Dispensa palavra o que arde
no verso da pele e da noite.
Teu nome é um abajur de encanto;
circundam-no Mariposas Diáfanas,
Azuis e Douradas a escavar no granito.
Teu nome.
E se intento rimá-lo co'aurora,
se intento violar seu segredo,
-- ruge o silêncio fulvo
e o devora.
Igor Buys
26-12-11 / 1o. de janeiro de 2017
Kristiana Pelše; foto roubada
