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CARTA ABERTA AO MTST E À FRENTE POVO SEM MEDO ✔

Prezados companheiros do MTST e da frente Povo Sem Medo.

Antes de tudo, é imperativo parabenizá-los pela bravura heróica e pelo senso político democrático com que, no dia 28 de abril do corrente, se insurgiram contra o golpe de Estado em curso no País, por meio de atos incisivos, os quais demonstraram coordenação extraordinária, abrangendo diversos estados federados e municípios, área de dimensões continentais, e fizeram prova de uma vitalidade cívica extremamente escassa nestes dias.

Os atos do dia 18 de abril foram, inclusive, enormemente mais contundentes que as primeiras ações diretas do Black Bloc, em 2013, dando a ver o potencial que o movimento tem para promover pressão sobre as forças golpistas.

Entrementes, o Black Bloc contou duas vantagens, digamos, táticas em relação a vocês:

(1º.) eles desenvolveram uma relação simbiótica com a mídia aparelhada pelo colonialismo desde os anos sessenta, a qual, com o claro objetivo de desestabilizar o governo federal, dava repercussão desmesurada aos seus atos — simbólicos;

(2º.) por fazerem uso de uma tática pré-definida, vinda do exterior, e muito bem embasada, eles souberam produzir simbolismos que, necessariamente, obrigariam a mídia golpista, tanto como os veículos internacionais de imprensa a se manifestarem, mesmo que não tivessem o interesse de sabotar o País. I.e., eles atacaram diretamente ícones do capitalismo, como agências bancárias, lojas do McDonald’s e os próprios prédios do esquema Globo.

A mente individual, assim como a social, trabalha com símbolos e significados.

Fechar o acesso a estradas e vias públicas, no quadro de um governo ditatorial, é, ao lado das greves generalizadas, um dos meios de luta mais eficazes no sentido de produzir a paralisia da economia, da administração pública, das gestões dos interesses privados do capital e, a parir disso, inviabilizar um regime de exceção, pugnando pela retomada da via democrática no País.

Porém, no contexto atual, do governo Dilma, é de mister avaliar o que simbolizam esses mesmos atos e que significado terão para o desenrolar do processo golpista.

O simbolismo é claro: a cidadania, representada pelos movimentos sociais, não está disposta a aceitar o retorno à ditadura, com a consumação do golpe de Estado em urdidura no País. Ora, esse simbolismo é forte o bastante para causar pânico a setores conservadores, ao empresariado, aos políticos golpistas, logo, cabe à mídia corporativa corrupta e marrom abafá-lo a todo custo. E foi exatamente o que se observou no dia 18 de abril.

O significado dos atos, por outro lado, não incomoda ainda à direita, porque o governo atual ainda é o governo Dilma, diante do qual se tem feito a política do quanto pior melhor, sem trégua, há vários anos. Isso doerá neles, quando estiverem tentando estabilizar a economia e sagrar a sua prevista lua de mel com a ditadura Temer.

Nesse diapasão, tudo o que nós temos a sugerir é a análise tanto mais aprofundada quanto possível dos valores simbólicos e dos significados práticos de cada ação a ser tomada.

Ações diretas coordenada, na calada da noite contra lojas do McDonald’s por esse imenso País afora, seriam manchete, imediatamente, em todo o mundo, porque seriam lidas como um ataque à ordem capitalista: algo que nunca deixa de gerar um alerta planetário instantâneo. O mesmo se diga de ações diretas contra bancos, e bancos — privados, já que os bancos públicos, e, sobretudo, os bancos centrais, estão entre os alvos centrais dessa mesma direita que articula os golpes de veludo por todo o mundo.

A logística desse tipo de ação não é mais complexa que a do trancamento de vias públicas em plena luz do dia, mas a repercussão na mídia seria instantânea e incomensuravelmente maior.

E qual o gancho simbólico para tais atos? O que eles teriam a ver com o golpe de Estado em curso no País? Ora, seriam uma contextualização geopolítica do golpe; uma declaração de que a cidadania e os movimentos sociais não estão alienados nem cegos e se sabe, muito bem, de onde, em última análise, vem todo esse processo de ruptura democrática e enfraquecimento do Brasil, país integrante do BRICS.

A nação hegemônica quer se salvar da multipolarização global e o Brasil é país-chave em relação a esse objetivo.

Chamando a atenção da mídia mundial para o movimento de vocês e a irresignação da sociedade em relação ao golpe, rapidamente, tudo o que vierem a fazer já será do interesse imediato da imprensa formal.

E vocês, ficou claro no dia 18 de abril, têm nas mãos recursos de sobra através dos quais forçar toda a mídia a repercutir os atos que articularem, doravante.

Apenas a título de exemplo, pontuamos algumas linhas de ação, avaliando os seus valores simbólicos e significados pragmáticos imediatos:

1 – promover o trancamento, não apenas das avenidas principais, mas daquelas ruas que dão a acesso, especificamente, aos prédios dos esquemas Globo, Folha de são Paulo, Estadão, Veja e etc.;

2 – promover o trancaço das entradas em si dos prédios dos grupos da mídia comercial citados, bem como dos prédios da FIESP, da administração central do Banco Itaú / Unibanco, e, na media do possível, paulatinamente, de todo o sistema financeiro e, mais urgentemente, — de todo grupo empresarial que declare apoio ao golpe ou que se reúna com Temer para viabilizar a sua ditadura;

3 – isolar as entradas para tribunais e casas do legislativo, inclusive, em Brasília e na República de Curitiba, que por ação ou omissão, venham cooperando para entretecer a teia viscosa da ruptura democrática;

4 – promover ações diretas contra fábricas e caminhões da Coca-Cola, emblema muito nítido do capitalismo, que, uma vez atacado, desenha uma mensagem contumaz, que todo o planeta, independente de barreiras linguísticas e culturais, compreende de plano;

5 – ações diretas contra empresas estadunidenses; tracamentos de acessos a embaixadas dos EUA; de portarias prédios de corporações representantes do capital ianque: isso, por si só, pode ocasionar um posicionamento formal de Washington em relação ao golpe, quebrando o silencio claramente cúmplice com que o tem envolvido; pode, até mesmo, propiciar uma ordem de Washington para abortar o processo golpista — porque, sim: a nós não resta a menor dúvida quanto ao fato de que os ianques dispõem desta condição*;

6 – perseguir e interceptar os veículos caracterizados do “jornalismo” do esquema Globo que deixarem os prédios de origem; promover ações contra quaisquer patrocinadores do esquema Globo, i.e., aquelas empresas que anunciam seus produtos através da mídia golpista, financiando, portanto, o golpe de Estado e a ditadura por vir;

7 – realizar ocupações de prédios públicos e privados, entre todos os citados, sem violência contra a pessoa humana maior que o eventual prejuízo temporário do direito de ir e vir de alguns, sendo que, quem desejar, por exemplo, transpor barricadas em chamas, não deve ser impedido: a reação ao golpe brando deve ser, no mesmo sentido, branda, não extrapolando a desobediência civil e os crimes de baixo impacto, como os crimes de dano: se houver violência física, truculência brutal, que venham da parte de um eventual governo ditatorial e suas polícias opressoras e desumanas, e que isso tudo seja muito bem documentado, em fotos e vídeos, para ajudar a formar opinião no País e no exterior.

Enfim, de momento, é o que teríamos a ponderar, da forma mais resumida possível, ressaltando que os atos do dia 18 de abril trouxeram um alento novo a todos os que lutam pela manutenção da democracia brasileira: vocês, do MTST e da frente Povo Sem Medo, são o sal da terra: a vanguarda absoluta de todos os movimentos que, unidos, são capazes de interromper ou reverter o golpe! Por favor, não desistam!

Fortes abraços,

Igor Buys

01/05/2016

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*Isso faz lembrar a surpresa do pessoal da resistência ao golpe de 1964 em relação à solicitude dos militares, quando do seqüestro do embaixador estadunidense: até então, nem eles sabiam, segundo relato dos próprios, que os golpistas da época tinham nos ianques os seus únicos e verdadeiros “patrões”.

Foto fornecida a nós pela ativista do Black Bloc que utilizava o nome código de "Dana", administradora da página do BB/RJ, com quem mantivemos contato por cerca de um ano, a partir de junho de 2013

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