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DERIVA DOS CONTINENTES

Uma loura lactante, mãe há poucos meses, biquíni de onça, perdida em si mesma e a procura de Deus; uma mulata, vestida de prata balé e samba; um homem vestido de silêncios. Uma cena por demais pitoresca para ser pintada, exceto por Lautrec mas numa tela cubista e carioca; um beijo de três bocas, uma boca de quimera, de pantera negra e aur- ora pintada, com a cidade roxa e amarela ao fundo, diluindo-se na sarjeta incendiada de infernos que piscam em fornos vermelhos, azuis e verdes de além. Duas, nada menos que duas, nuas como rios que se encontr- am negrossolimônicos transbrasileiros e dasaguam em barro- -carne lua, para ao barro não retornarem jamais exceto como grito exceto como cimitarra contra o peito do tempo que todos querem morto- -e-ressurreto dionisiano para não perder do ag- ora o seu sempre, a sua alma e- terna e ensaguentada. E enfim, a quase impossível, a quase não vista ternura e suas pétalas róseas, seus pés delicados, floresce entre os náufragos, os que se sabem a deriva na deriva dos continentes, com seus risos frouxos, com seus dedos enlaçados, numa terça sem termo, num quarto sem quartos, num Rio sem rumo, que volve a oceano. Igor Buys

In "Versos Íncubos"; 2014

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