
DIGRESSÕES
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Reflexões ultra-sintéticas formuladas para veiculação através do tuíter @IgorBuys
TEXTO EM VERSETOS E (DES-) INVERSÃO
COPERNICANA
1 - Este projeto literário, dito aqui Tuitações, uma vez concretizado em livro, não levará tal título, senão, provavelmente, — DIGRESSÕES.
2 - Tive, aos vinte e poucos anos, a idéia de escrever um texto que rompesse a seqüencialidade linear, com digressões verticais e horizontes.
3 - Mas só agora começo a pô-la à prova, e o faço tendo como álibi e crisol a utilização desta mídia social tão aberta: vera ágora pós-moderna.
4 - A referência primordial são os físicos-poetas da Hélade, que nos legaram, ora poemas formais, ora fragmentos, que se parecem com — versetos.
5 - Ou versículos. Dando a entender que escreviam de modo fragmentário, sintético, em suma, a mesma fórmula básica vista nos textos bíblicos.
6 - Esses textos, me ocorre, podiam ser recitados. Ora, eu sou poeta, e um poeta que pensa a totalidade, reivindicando a herança desses físicos.
7 - Que físicos são por saberem pensar o Todo, e mesmo os deuses, como "physis" (Φysis). Tudo o que existe e preexiste é coisa, no latim: "res".
8 - Sutil é, exatamente, a aparência, o fenômeno (φαινόμενον): a imagem, ou signo. Defino a imagem, ou fantasma como — a quase não coisa.
9 - Uma metáfora constante com que trabalho, há muito, é a da realidade como o cristal de rocha, desabrochado em meio ao negror absoluto.
10 - Escrevi em verso que o que habita o AQUI está para a matéria, o produto dos sentidos, como o granito está para o ar, porém muito mais denso.
12 - E, neste momento, retomo, pela segundo vez, o postal e o versículo seguinte. Frise-se neste a afirmação de que se pode estar: aquém do real.
13/2/13 - A Teoria do Fluxo (“Flow”) torna mais clara essa condição de alheamento em relação ao tempo do ato. O que é estar um passo aquém do real.
14 - O que está um passo aquém do real, o Eu profundo, é “res”, mas inda não é real. Não faz parte da realidade, qu'é a apreensão da “res” em si.
15 - Isto é o essencialismo com a nuança da (des-) inversão, algo copernicana, do que sejam o sutil e o denso. Atualização, se verá, bem segura.
16 - Feitas essas ressalvas, podemos retornar, numa próxima sequência de postais, e de versetos, ao tema da banalidade do mal e seu “modus".
DENSIDADE E SUTILEZA – PRIMEIRO PASSO
1/8 - Sutil é, exatamente, a aparência, o fenômeno (φαινόμενον): a imagem, ou signo. Defino a imagem, ou fantasma como — a quase não coisa.
2 - Principiemos esta digressão vertical por um axioma: toda imagem, ou fantasma sensível, é um — signo e todo signo é uma imagem, ou fantasma.
3 - Disso deriva que metafísica e semiologia sejam uma única e mesma ciência. Ora, a coisa em si, ou melhor: o em-si das coisas é incognoscível.
4 - Pois conhecer é, primeiro: apreender pelos sentidos; depois, inteligir ou: representar. E, num terceiro ato, reconhecer — ato este coletivo.
5 - São, destarte, três as operações da cognição: a percepção, a apercepção e o reconhecimento. A primeira prescinde de um eu: é o sentir puro.
6 - I.e., o sentir independente de alguém que o conheça como algo sentido. A segunda flagra em nós a — partícula proprioceptiva do Eu profundo.
7 - Só posso me aperceber de algo em relação a mim. Mesmo um sentir. Ponho-me consciente de algo que me afeta, o referindo a um eu sito AQUI.
8 - A representação desse eu é uma imagem, ou signo que não deriva de qualquer dos sentidos externos, mas da propriocepção, um sentido interno.
9 - Dizemo-la uma partícula e um átomo por ser a densa, indivisível menor parte do eu e o tijolo fundamental de toda a sua complexa anatomia.
10 - Trabalhando com a mais importante tricotomia peirceana, diremos que tal signo, ou imagem é um — índice; não um ícone, tão-pouco um símbolo.
11 - Um índice é um signo que representa algo através de uma relação de contigüidade; e.g., uma seta, que aponta um caminho. Ou um cata-vento.
12 - O fantasma do Eu profundo é uma seta a apontar para algo que, por força, precede espaço e tempo, estando sito num τóπος absoluto: o AQUI.
13 - Tal signo, ou imagem, essa seta, é fundamental para entendermos o processo de empatia, pois vem a ser o que chamaremos adiante: identidade.
14 - Por ora, aceitemos que a identidade, quando usada, primo, no ato da apercepção pelo recém-nado, funda neste o átomo do eu-individual.
15 - Já o ato do reconhecimento depende da cooperação de todos os que constroem, ao longo do tempo, a linguagem e a cultura, e se chamam — nação.
16 - A nação, ou indivíduo cultural e lingüístico, vive em todos e em cada qual dos indivíduos físicos, naturais e se constitui num: eu-coletivo.
17 - Por isso, lançando mão de mais um axioma, diremos que não há verdades internacionais ou mesmo individuais, senão apenas verdades: nacionais.
18 - Reconhecer é subsumir algo num esquema, termo kantiano, cultural e linguístico, acréscimo nosso, de modo a lhe atribuir um — significado.
19 - O significado é um conjunto, em geral, amplo de imagens imbricadas; o seu tecido pode vir a ser imensamente complexo, porém é de todo sutil.
20 - O em-si das coisas, a “res”, é interna e externa; se situa para aquém e para além dos objetos mundanos, fantasmáticos: a quase não-coisa.
21 - Assim, se as coisas AÍ quase não são coisas, é porque são o produto — poético da cooperação do sujeito, o eu-coletivo, com o eu-individual.