A NINFA DA LAGOA AZUL
Na ilha em que habito existe uma lagoa azul.
Não, não falo daquela em que os veranistas se ba- nham! e levitam as lanchas: deveras uma laguna, mar ébrio de céu e opala, belo como poucos há nos mapas.
Quanto à minha lagoa azul, amor, só eu a conheço: só eu sei da trilha para lá, onde tem fim e começo.
Na ilha em que realmente habito, insulada em relação à alheia, eu dizia, existe uma lagoa azul de águas espiritualizadas, cor de topázio, e tão angélicas, tão doces
que o sol quando as toca cristaliza em mel e a luz fria volve a chama e Ocaso.
Ali me escondo de tudo, de todos e redescubro o menino azulado em mim, capaz de segredos, amores eternos,
ainda que a eternidade caiba num dia,
num ato, um olhar, um sorriso, uma flor
de braços e pernas, de beijos, enlace.
Ali mergulho, -- à sua margem, meu terno de areia e formigas; ali me lavo e purifico em chama azul. Em sonhos ternos me renovo e cogito porvires bons e sem ânsia.
A lagoa azul é o meu sagrado sem grades, sem gessos: tangível, metafisicamente. E a ela me guia, no mais pleno, perfeito sorriso, me desvenda os caminhos à frente,
sacerdotisa nua e amiga da Lua, -- a Ninfa.
Ai! A Ninfa da Lagoa Azul.
Igor Buys Ilha Grande, 11 de junho de 2020