CACHORRO, FILHOTE
Eu serei o teu filhote:
o teu cachorro de colo.
Vou lamber, morder os teus pés
derramado sobre o teu tapete,
tua sala de estar,
à beira de ti e do sofá;
teu cachorro, teu cachorrinho,
filhote serei, de olhos órfãos,
gemidos pedintes, sequiosos.
Vais poder me dar banho,
nevar meus pêlos do xampu perfumado;
enxugar o meu corpo inteiro
com a toalha maternal, o secador.
Vais poder cuidar de mim,
recolher-me entre os seios arrepiados e
a face deitada, olhos cerrados: todo o teu bebê.
Vais-me ter como tantas e tantas
desejam, e tão febrilmente: fantasiam,
se expõem, apelam; mas jamais terão
suas paixões saciadas. Não, não! tu bem o sabes.
Só tu. Só tu podes me chamar teu pet,
teu cachorro: filhote.
Só tu podes me ter aos teus pés
assim, com os dentes afiados,
a língua precisa, apressada a escalar as tuas
pernas, e me ver saltar para o teu colo,
de repente! lamber o teu rosto;
revirar-te de bruços, montar nas tuas
costas: umectar a tua orelha, a tua nuca.
E estremecer sobre ti em plena sala:
tão nua, nossa, sem paredes sem limites
Só tu podes.
Vais ser a minha dona amada; eu estarei
aos teus cuidados, faminto, fiel
todo amor e atenção: incansável
e ébrio de interação. Todo teu,
todo filho, brinquedo tão amigo, vivo
-- mais até que o ursinho confidente --,
dependente do teu amor e cuidado.
Eu serei o teu filhote:
o teu cachorro de colo.
Só teu, amor, só teu! Que só tu sabes me ter assim.
Igor Buys
Ilha Grande, 23 de agosto de 2020