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COMES E BEBES NA MADRUGADA (OU CONCESSÕES AO MODO CITADINO DE VIVER)

Coisa gostosa poder pedir umas cervejas e algo para comer a uma hora da manhã na "minha" choperia na Ilha Grande.

Ontem, madrugada de sexta para sábado, pedi o meu filé mignon aperitivo ao molho madeira de sempre e quatro latões de cerveja nacional da melhor qualidade. Sim, há uma cerveja nacional de boa qualidade, só uma, mas há.

Hoje, pedi uma pizza de presunto, uma das minhas favoritas, de quarenta centímetros -- para quem pode comer massas e emagrecer com isso, um truque simples, deveras -- e algumas cervejas que ainda estou acabando de consumir neste momento enquanto digito.

Fiz o pedido a uma hora da manhã, horário de Brasília. E isso é o mais saboroso de tudo: essa convivência, conivência e conveniência mútua com a noite e a madrugada.

Soube que havia um bêbado chato na choperia ontem. De tais tipos estou livre. E soube que hoje estão assistindo lá uma luta. Ora, já dessa parte até senti saudade. Afinal, fui eu, o dito melhor cliente da casa, quem sugeri que se pusesse num dos televisores, o maior, o canal de lutas por assinatura: aquilo sempre distrai o olhar, é algo para se comentar e outras casas, as quais citei então, já o faziam, como se faz no Rio, há décadas.

Senti saudades e até cogitei voltar a assinar algum pacote de canais de televisão.

Vendi meu televisor há alguns anos quando cheguei aqui, na Ilha. Trouxe o aparelho do Rio, conforme me aconselharam a fazer, junto com a minha mobília e demais eletrodomésticos, e vendi quase tudo de espetar nas tomadas por bom preço, amiúde, acima do valor de compra nas lojas do continente. Não queria mais saber de televisão, notícias, filmes enlatados, coisas que contaminam o sono e o sangue. No Rio, já ligava aquilo muito raramente.

Mas ainda possuo um monitor-tevê, sempre possuo um, e uma assinatura do Netflix: este ano, assisti um filme pelo Netflix; ano passado assisti outro e, ainda, a quinta temporada da série Vikings, conquanto sem ter consigo fixar minha atenção nos episódios outrora tão esperados. Nunca gostei de televisão. Nem de cinema roliudiano. Nunca gostamos, na casa dos meus pais, nem de televisão, nem de circo: dois pontos de consenso absoluto nosso.

Mas assistir uma luta enquanto tomava as minhas cervejas hoje iria bem.

Preciso mesmo de uma televisão para o sistema de câmeras da casa. Quem sabe.

Estou fazendo, ultimamente, concessões ao modo urbano-citadino de viver, enfim. Essa não será a primeira. Quem sabe, digo-o de novo. Quem sabe do dia de amanhã nos tempos do coronavírus.

Igor Buys

Ilha Grande, 07/06/2020

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