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MEDO DE SER FELIZ

Vence esse teu medo de ser feliz. Deixa a natureza nua pensar por ti. Ouve a voz dessa tua pele de leite e deita a tua cabeça no meu peito. Não te prendas ao fato d’eu largar. Se largo, ora: primeiro agarro. Sê positiva, mulher!... E madura. Quem vai rasgar a tua blusa. Quem vai bloquear o teu tapa e beber a palma da tua mão. Quem vai te deitar na parede. Quem senão eu vai te fazer rir e sorrir, bebendo lágrimas. Só eu vou-me sentar no chão para auscultar teus esperneios, decifrando esses olhos de menina. É sério: só o ficante e o viado são amigos da mulher: escolhe. Ninguém assistiu ao formidável enterro da tua última quimera, somente a ingratidão, essa pantera?*

Pois se a alguém inda causa pena a tua chaga, arranca essa roupinha que te esconde; mostra esses seios pontiagudos, essa púbis de louça, morde e suga o sangue da vida! Vem, amor: espero-te há tanto; vem cortar as minhas costas com essas unhas, que a chama é breve e a cinza do esquecimento, eterna!

Igor Buys

20/12/2010

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*Alusão: Augusto dos Anjos, "Versos Íntimos".

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