BAILARINOS
E se eu te sentasse sobre esse parapeito
oscilante atrás de ti, o abismo da paisagem verde
(infinita abaixo) convidando o teu instinto
a me envolver com as pernas e braços,
a me olhar dentro dos olhos, abrir a boca
e perder o fôlego a língua a palavra o senso
na espiral do meu beijo. Do meu beijo
apaixonado giratório vertiginoso.
Eu te amo.
Eu te cobiço e quero.
Onde foi que vimos, neste mesmo andar
desta casa por onde me perco e redescubro
uma porta de duas folhas? Dá a tua mão.
Lá está: o vão de porta, afinal.
Portas são entidades inquietantes: separam e unem
espaços, tempos..., passados, futuros, sonhos
vidas, mundos
mortes.
Verdades fundas.
Tuas costas contra o umbral da porta.
Baixo juntas de supetão tua calça e bermuda
até o chão. Tira, amor, um pé e agora o outro
de dentro do laço de pano. Beijo a tua púbis.
Meus dedos te procuram por trás.
Teu tênis de adolescente sem nenhum charme
imediato pisando o peito do arco do oposto lado.
Minha mão por baixo da tua coxa, tua panturrilha
sobre meu bíceps. Meu órgão penetrando
a tua carne, minha carne pulsando na tua alma
nua caleidoscópica e mais adentro, ai, mais adentro.
Trago tua perna para sobre o meu peito e ombro.
Dançamos uma dança gaga, uma dança ébria de vinhos
cujos passos se conhecem desde antes de chorarmos para a luz.
E nos emparelhamos às aves da mata, pernaltas, peraltas,
aos coqueiros sob as tempestades, aos bailarinos mais precisos.
E, enfim, minha seiva, meu magma jorra a inundar o mais fundo
e sagrado de ti para retornar enlouquecido, transubstanciado
na luz dos teus olhos... a me purificar: chama verde absurda,
-- absurda! me diluindo, apaziguando.... junto a delfins
anequins, saíras algas gaivotas tulipas e pérolas!
entes do céu, do ar
ar
e do mar.
Igor Buys
Ilha Grande, 07 de janeiro de 2020
Kristiana Pelse
