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CATACLISMO E AEROSSÓIS

I

Numa terra onde não há vulcões

visíveis

pessoas talvez os tragam n’alma, intrínsecos.

Alguns talvez os calem — fundamente.

E umas centelhas vagas entre olhares

plúmbeos

mal denunciem a ânsia de explosão e rubro.

Numa terra onde se pode tudo

talvez se afogu’em meio aos cataclismos

as possibilidades menos hiperbólicas.

E é aí onde fissura o átomo: no ínfimo,

no abismaticamente íntimo, e amordaçado.

II

No sábado aurinegro, besuntado

ainda de vermeil e gente cúprica,

um respeito pelo abisso acima, que conti-

nua — treva líquida e convulsa — abaixo

no mar

conti-

nua nos cabelos dela, inconsciente papisa.

Aquilo.

O que revolve ali não é o deus nem vida,

aquilo nada tem a ver coa morte.

É só caos

sem começo nem fim

muito menos ciclo.

Aquilo.

Aquilo só sabe o não saber pulsante

anterior até ao movimento. O grito

mais antigo que o silêncio, imoto

como a voz tonitruante dos rochedos.

Os enredos sociabundos se amesquinham.

Os vácuos e as certezas rarefazem.

Aquilo está tão perto que atordoa,

está muito mais aqui que o aqui mesmo.

Urge, pois, parar de metadespi-lo:

aquilo incomoda já, sevicia a noite

com sua fenda infinda, mais que fê-

mea e mãe. É fé meã

um não saber, sabendo-o, in totum.

III

Tra-me-á a bebida de volta à razão.

E a razão me tramará sua symploké.

Coxas, pernas, lábios rubro-acetinados,

estrobosc-

ópicos losangos lilases vultos em mosaico.

É de mister lavar-me em seios e saliva.

Já os meus vulcões predizem o dia sanguinário

no horizonte.

É tempo de saber a carne entre o sabor dos

dentes

é tempo de pisar o tempo como

templo d’algum deus morto,

-- sim, morto, mas possível.

Igor Buys

11 de maio de 2011

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