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DE QUANDO OS MUNDOS ACABAM


Mundos acabam todos os dias, pessoas morrem e continuam de pé. Tudo o que já foram e poderiam vir a ser está perdido, elas apenas não percebem. Prédios implodindo, céu de chumbo ardente; a mãe está morta sobre o assoalho, o filho desapareceu, misteriosamente. O telefone não funciona, o carro descarregou, a conexão caiu. É o fim. E os sonâmbulos não vêem, não crêem: seus olhos têm escamas através das quais divisam mitos ébrios. Um novo sol está raiando em rubros tons retumbantes [em plena tarde negra, e o ignoram. O gato está morto na piscina; o cão ou sua cabeça arregalada e feroz nada no aquário. O cofre não foi arrombado: apodreceu. A Bandeira mais bela de todas já tremula altívola; soa forte, bem forte, o Hino da Justiça, e o não ouvem. Sim: o mundo acabou; seu tempo esfarelou, ruiu; mas eles cavalgarão ainda os seus corcéis esquálidos. Qual o louco de Cervantes, em armaduras de papel, estão eretos e marcham arrogantes, rumo do abismo.

Igor Buys In Versos Íncubos; ed. Scortecci, 2014

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