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CARROSSEL

Posso beijar a tua boca durante horas. Beber os teus cabelos da concha das mãos unidas como para aplacar a sede de algum deserto. Abraço o teu vestido enquanto reverbero o tique-taque infinito. E se demoras um pouco mais, vou buscá-la onde estejas. A estranha sensação de te conhecer há mais tempo que teus pais. E o cheiro do teu batom, o teu perfume impregnando qualquer coisa por aqui... Posso me exaurir de passear pelo teu corpo transformado em país, onde há praias e dunas de sal, onde há bosques de relva rasteira, grutas de ágata à luz da minha tocha. Procurei tanto pelo que me dás. Esperei pelos teus olhos de plenilúnio pra redimirem a cor das noites. Preciso escrever-te um verso, com letras grandes de giz, um verso sobre que deslizem as crianças ambarinas na praça, e de que os pombos se ergam, quando nos virem abraçados, girando o carrossel da tarde.

Igor Buys

In Versos Íncubos, 2014

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