DAR NA TUA CARA
Que vontade de te morder na boca,
de te dar na cara,
te jogar no chão.
Que compulsão,
que ânsia: a alma de meus braços se projeta viva,
vítrea, mal visível nos ares, e me escapa de novo,
e de novo, me puxa, e quase arrasta o peso, a carne,
o osso, a culpa,
o dente.
Morder essa tua boca,
rasgar a tua roupa,
beber tua saliva, pesar sobre o teu corpo.
Que vontade!
(E que carência…)
Tenho febre e tenho frio.
Pisca o olho para mim,
sorri de lado, debocha;
resiste no chão, te debate,
resiste mas não muito,
e me lanha, me marca e demarca inteiro
com essas tuas unhas, amor.
Que vontade de te xingar de um nome!
E outro! E mais outro!
Beijar, beber teu rostinho de um modo
selvagem...; e chorar no teu pescoço,
soluçar como um menino.
Enlaçar os teus dedos,
sentir tua outra mão na minha nuca,
tua perna sobre o meu bíceps;
e falar ao teu ouvido coisas
desconexas, sobre viver para te amar,
sobre morrer nos teus olhos,
afogado em luz salsa, afogado,
ai, sublimado,
sublimado em silêncio.
Igor Buys
Ilha Grande, 22 de fevereiro de 2020