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GUARDA-ME

Guarda-me contigo. No fundo do teu corpo. Entre teu ombro e tua face,

acolhe a minha face, febril,

o meu silêncio e cansaço.

Em meio aos teus cabelos,

teus desvelos, ai, teu abraço.

Quase presa entre teus lábios,

minha língua. Guarda-me

por inteiro, afunda-me

na tu’aura como em água

morna: me doa o teu calor

e cura do concreto

selvagem em meu olhar.

Guarda-me contigo;

senta-te aqui, de frente pra mim,

me envolvendo coas tuas coxas.

Agarra firme, bem firme

o meu pescoço; fala ao meu

ouvido, um e outro, meu

rosto entre teus seios, prot-

egido; meu dedo, e mais —

um, pouco a pouco adentrando

a tua carne: não os removas:

aceita-me, me abriga, sim:

com dor e amor, qual num parto.

Guarda-me contigo entre

os perfumes do teu quarto;

segura-me com tua mão

e do oco de tua palma (macia),

passa-me ao imo de tu’alma

de rosa ou de anêmona, não sei:

traga-me, devora-me, galopa

louca a minha ânsia; guarda-me!

entre unhas, dentes; afoga-me,

no mel da tu’Aurora, por vir;

incendeia-me, amor, rasga-te!

sangra junto com a noite!

estremece com o meu tremor;

me roça as pontas dos cabelos,

de seda e saliva, de lava e luz

rubra: hum, guarda-me as forças

e seivas, ah..., no fogo de tuas veias.

Igor Buys

In Versos Íncubos; ed. Scortecci, 2014

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