PISCICULTURA D’UMA SEREIA
Observo o seu comportamento
seus hábitos alimentares
iconográficos
culturais:
fascinante criatura.
Numa quase prancheta
rabisco anotações poéticas:
suas reações defensivas
cautelosas
caudalosas
mansas, meigas;
sua beleza multicor
surda passionata
seus movimentos: pura luz.
Que interessante.
Estonteante criatura.
O aquário aceso dentro da sombra
mal consegue cabê-la
que às vezes transborda do cristal
desliza
e logo cai assentada
bem aqui
sobre o meu colo morno.
E seu braço de alga já me envolve o pesc-
oço inda molhado de clarão e leite;
minha mão sobre o seu seio sabe amassá-lo,
sabe brincar no seu mamilo,
e a minha boca e a sua boca
se confundem numa rosa afogada, ígnea:
sépalas de anêmona, lábios de água-viva.
Numa dessas, ai que a desencanto!
e roubo das marés para sempre.
É de mister alimentá-la
cuidá-la
ora com a coisa
ora com a não-coisa:
a negação
o silêncio,
alimentá-la
e sempre cuidá-la,
ali tida e mantida,
na cela de vidro
na algema do sonho:
de sépia e bondage.
Sereia no aquário
peixe invitrescível
feixe fugidio
incompreensível
absurdo e coerente
insofismavelmente juvenil.
Igor Buys
21 de agosto de 2012
Isabella Santoni

Rafa Kalimann