O NOSSO AMOR NUMA PEÇA
O nosso amor, algum dia, estará numa peça: um poema dramático, labiríntico e aberto.
Os holofotes o abraçarão com cores quentes e frias furtadas aos teus olhos e nuanças; tons que irão do mel ao mar de glauca esperança.
E um’outra atriz o desencantará de entre silêncios e fibras. Letras, pausas e ecos.
Será forçoso dançá-lo em certos trechos; sim: de pés descalços e mãos desatadas no tempo!...
Quem sabe tu mesma, quando eu for lembrança, me devolverás à vida, girando, desabrochando! E murchando... No imo do palco, entre vitrais.
O nosso amor será lágrimas a correr das faces amornadas; será aplauso, maquiagem borrada. As lâmpadas do camarim ainda o reterão e o espelho sem bordas nos verá: reunidos.
O nosso amor algum dia será mentira. Mas traduzirá verdades de todo irrefutáveis.
E ali onde tudo é possível seremos dois e em um só; teremos filhos nos braços de cada espectador a pulsar nossos corações. Nossas sombras, clarões. Sístoles e diapasões.
Igor Buys, 29 de maio de 2013