CORSÁRIOS
Um antepassado meu, algum dia,
aportou nesta Ilha com seu navio,
seus escravos, sua tripulação
de corsários, homens duros, lobos
do mar, com cabeças cortadas de-
penduradas no mastro junto à rubra,
azulada bandeira da Grã-Bretanha.
God save the Queen! sabia clamar
o feroz escocês, meu antepassado;
God save the Queen! era seu álibi.
Tomou para si uma praia remota.
Uma praia remota tomou para si.
Lá posso ver um balanço fixo
entre árvores, nuvens; uma pedra
com uma inscrição. E vultos vítreos,
de vozes falhadas, folhas, vento…
Mãos encarnadas, águas claras,
espada escarlate..., prateada,
e enfim verde, azul, filha do sol.
God save the Queen!
God save the Queen!
A quem devo dar os tesouros
ocultos sob as areias da minha carne,
febris como o meu sangue
e o sangue dos meus? Diga-me!
Diga-me sem dizer com palavras,
senão com passadas, pegadas
de marfim rumo ao nosso porvir.
Igor Buys
Ilha Grande, 26 de outubro de 2019