DOS SONHOS IMPOSSÍVEIS
Os sonhos impossíveis, de quando em vez,
quiçá, por mero capricho, se realizam.
Não obstante, o só fato de se realizarem
não fará deles algo tornado meramente
possível, mundano e corriqueiro. Ah, não!
Não mesmo: os sonhos impossíveis são -- na sua essência
sonhos impossíveis, e de todo impossíveis,
já que a impossibilidade é uma idéia completa, absoluta.
Não importam as aparências.
E qualquer um que veja realizado um sonho impossível
e fale sobre isso a toda gente, blasfemo infeliz,
-- certamente nascerá cego!
Pois se é o Buda quem diz que aquele que desmerecer a beleza
desmerecerá também o dom de poder vê-la numa próxima vida.
Os sonhos impossíveis talvez sejam os veros Arcanjos
do panteão cristão: emprestam-nos as suas Asas,
o seu poder de vôo! e outra maravilha não foi,
-- nem astronauta, nem viajante do tempo --, o que fez o macaco,
de olhar vidroso..., mirar do solo, pesado, o pássaro que dardejava
e, louco, antever, entre tremores, temores e suores -- o avião,
o satélite, a impossível, de todo impossível
pegada sobre a face da lua.
O que somos nós senão seres afeitos ao amor do sonho pelo impossível?
Tudo à nossa volta é carne da carne do impossível
e tem por sangue o sonho de Ícaro, seu mergulho intimorato
em direção ao sol... E ao abisso.
Igor Buys
Ilha Grande, 10 de novembro de 2019
Alessandra Ambrósio
