ESTANQUE
Ainda te sinto.
Sinto como a um membro ausente.
Ainda durmo com o teu sorriso
a brotar do aquário iluminado
algo bruxuleante
do monitor sonolento
quando me reviro na cama
até o amanhecer.
Isso não faço todo dia.
Só nas noites mais frias,
de horas mais lentas e longas.
Os teus cabelos ainda estão nas auroras,
caminho da Praia Preta,
estão na Cachoeira ébria de noite e de ouros.
Mas eu não sei mais bebê-los
da concha das mãos unidas.
Só água salobra… Tão salobra.
Há um manancial de poesias
prestes a sangrar de entre meus dedos.
Mas todas elas, sem querer, gritam teu nome...
Ora, que indiscrição das letras,
minhas velhas amigas.
E assim vou-me forçando a estancá-las,
às poesias, à tais palavras desnudas,
e ensurdecê-las.
E sigo escurecido. Estanque.
Caminho da Praia Preta.
Igor Buys
Ilha Grande, 01 de agosto de 2019 / 17 de fevereiro de 2020