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ACICATE

Tantos almejaram e com tal sanha nos ver separados e feridos; tantos tramaram e murmurejaram, sem rostos e sem vozes, por entre frestas e canaletas em rede, como maus espíritos e ratazanas! Agora, decerto, todos esses se comprazem em êxtase, decerto uivam, felizes e galopantes, sob o mármore lunar que os observa. Pois bem: eu só preciso de tempo. De tempo e da pecúnia mui metódica e castamente reservada, acumulada e consagrada — à vingança! Eu só preciso de nomes e endereços, comprados ou esfolados de sob línguas mancomunadas e peçonhentas!

Sim, de quem com a língua apunhala a espada terá por bainha o corpo flácido, a alma entregue aos cães do inferno! Encontrá-los-ei e que me guie o acicate viajante o Deus da vingança, Aquele mesmo para quem o Salmista louvara cantos, dançando, ainda, ao som de instrumentos, seus versos rubros! Eis a minha sina e redenção: o aço, o fio, o fogo silenciado e o manto da noite com a pantera humana mercenária, cega entre as sombras, como mascote! Entre tu e eu remanesce um halo: a memória da ternura e a ternura de cada memória a represar o tempo; tudo o que um dia foi sonho, sorrisos e suspiros, versos suavemente sussurrados aos ouvidos, silêncios densos de sinais, saudades, mil segredos, tanta afeição, tanto desejo... A soçobrarem nas distâncias. E é em nome desse arco estilhaçado que te peço: não abras os jornais, tampouco os ouvidinhos no dia em que eu banhar de gemidos escarlates e outras babas as minhas luvas negras e precisas! Igor Buys Rio, 26-03-09

Foto doméstica

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