TRANSVASAÇÃO
Refrescada, tu’imagem, de entre nuvens negras,
ressurge, como emersa de um lago profundo e
límpido, onde, banhando-te, tão bem te integras
ao convívio das ostras que se abrem ao fundo...
Eu, há pouco, relia uma de tuas regras*.
Aquela em que dizias: “e, por um segundo,
pensando ouvir-te a voz (nisto, te desintegras
e trespassam-te os astros, os sóis de outros mundos...)
voltei-me”...; mas as vozes dos ventos vermelhos
d'Aurora é que tu ouvias, com olhos de espelho;
voz mesma que ouço agora, a transvasar o Sangue
desta Hora, em qu'eu vendo derreter-se langue ao
fogo o ouro em bruto e a prata azul dos teus cabelos falava versos ocres só para mordê-los.
Igor Buys
poesia de juventude . ________________ *Regras são cartas no português clássico. Conferir em dicionários editados em Portugal, preferencialmente.
Kristiana Pelse