AS COMPANHEIRAS
Em memória do menino Rhuan Maycon da Silva
assassinado pela mãe e companheira em 31/06/19
Rhuan é um menino.
Um menino Rhuan nasceu
e sempre o será no céu.
Mas as companheiras
não gostavam de meninos,
não gostavam do seu pipi:
era convexo, era ousado,
impune: amedrontador.
As companheiras queriam
que Rhuan fora menina.
Uma lhe dera a luz; ambas
o mergulharam na treva,
na mais funda e opaca treva.
O pipi de Rhuan doía,
doía muito ao urinar, -- alegariam.
Ora, por que seria?
Teriam-no mastigado como fazia Nero
ao tempo em que João vivera em Patmos?
As companheiras tiveram
uma idéia: decepar-lhe o órgão
(queriam que fora menina).
Rhuan olhou para o alto, escuras
viu duas figuras, frias contra a luz;
viu o Dragão, o Dragão de duas cabeças,
mas jamais a coroa de doze estrelas...
Elas tinham horror do masculino, diz o psiquiatra.
Ano mais tarde, Rhuan inda sofria:
sentia ainda mais dores
e persistia menino, -- na cabeça.
As companheira tiveram uma idéia!
Decaptaram Rhuan vivo.
Esfaquearam-no outrossim:
o pênis de aço entrando e saindo se
espelhava em seus olhos vidrados,
suas frontes salpicados de sangue.
Chicotes, algemas felpudas espalhadas
pelo assoalho de prazeres e pegadas rubras.
Protuberâncias fálicas removidas,
limparam a sujeira, cortaram aquilo
em pedaços, dispuseram em bolsas.
E viveram felizes as companheiras
-- arrozes brancos lançados acima!
por um, quiçá, longo e longo sempre.
Igor Buys
Ilha Grande, 15 de junho de 19
Apocalipse; George Kofas
