AMOR DEMENTE - 3a. Versão
Tentar não pensar em ti é como
tentar não pensar por palavras:
um perigo ainda maior... Melhor
o pensamento que morde e roça,
que vira de bruços o corpo do porvir:
que mente à mente e ama o amor
nas vestes tuas: nuas. Amor met-
amorfo, delirante ser demente: nu.
Tão só. Tão absurda e loucamente
só. Ele dança, — a dois. Ri, sorri;
se alegra e vira em verso, vinho, valsa!
Amor, fugitivo e genial pintor
a borrar a noite de aromas e luzes,
a subverter sombras em quiálteras;
ladrão, saqueador de pomos pro-
ibidos, libidos que se não sabiam
belos, ou sós...
E nus.
Amor, marginal e meigo, amor!
— Sim, em breve será crime amar neste País!
— O coração é esquerdo! logo apontarão.
A cadela dominatrix do fascismo está aí de novo:
bastões, chicotes e casacas.
Ai, tantas vezes posto a ferros!
tantas vezes atado aos madeiros,
às fogueiras! Amor: amor bruxo.
Caçado, ocultado entre anáguas,
entre paredes, véus de breu
(onde se o não veja: perigoso!
cobiçado
invejado
nu).
Amor: demente e marginal amor.
Igor Buys
06 de janeiro de 2011 a 29 de outubro de 2018
Stafano Padoan; laser bodypainting
