LUA NUA (ou CANTIGAS DE AMIGO)
Estás, agora, tão próxima
e tão distante; tão minha
e tão perdida: tão musa.
Como, quiçá, sempre te quis.
Não perderei porém este
tempo, este azo, esta asa.
Esta praia deserta onde
gritar — te amo!
e te amo! mesmo isso
não fazendo qualquer sen-
tido, não sendo oportuno:
mesmo sendo heresia.
Não. O amor se constrói
no dia-a-dia: com tijolos
de vida, com fatos duros,
tidos, cozidos em altos-fornos:
quadrados, medidos ao calendá-
rio à régua e suas régolas,
ao relógio e seus régulos.
O amor deve ser assim:
— é assim! Só os poetas
amam sem medidas...,
ajuntando blocos vítreos,
sem a costura do cimento.
Só os poetas e os loucos!
conversamos falenas,
abraçamos o colo da noite.
A realidade dada não é boa
para nós: recife de corais
fora d'água. Sim! poderemos
prová-la juntos; sentir na língua
toda a chama do seu sabor
variegado, intenso! Surpreen-
dente. (Mas não devo eu en-
goli-la). Não é para nós, os poetas.
Simples-
mente.
Assim, não posso perder esta
chance, este futuro-pretérito:
ermida terrível!... e cândida.
Planeta rubro onde achar
as tuas mãos e poder pedi-las,
poder bebê-las, lavar as faces febris
no leite de tuas palmas de lágrimas.
Ai, Dio..., Dio, come ti amo!
Fanatismo: pois que tu és já toda,
toda a vida minha!
Cantigas de amigo.
Estás, agora, tão próxima, amor.
E tão distante. Tão casta e tão
nua... Como a Lua.
Igor Buys
Rio/Ilha Grande, 19-08-2014 a 22-03-2018
Kristiana Pelse
