AMOR: MALDIÇÃO OU VIDA
Sai do teu corpo e vem pra mim.
Vem... Dá três passos à frente,
mergulha num espaço-tempo outro
e me dá tua mão. Vem ser minha, vem.
Vem ser de si mesma, integralmente.
Realiza a vontade que o temor reprime.
Sai do teu corpo e vem pra mim agora.
É fácil: é — sentir que veio e já foi:
estás na trama, na teia do meu verso,
todo impregnado de uma voz liquórica,
amaviosa que te inebria e prende.
Vem de alma, de coração e, é certo:
virás de corpo inteiro. Ou estarás,
pra sempre, perdida numa caverna:
o degredo do medo quando triunfa
sobre o desejo de ser feliz e sincera.
Mas, por ora, essa gruta é cândida;
aqui beberei teu pescoço, tua face.
Tuas sedas deslizando até os pés,
polegares roçando os teus mamilos,
a língua cega a ler no braile de teus lábios.
Sai do teu corpo e vem ser minha,
no chão desta gruta, que será nosso céu,
ou o inferno do futuro-pretérito,
da memória do que não houve e jaz:
como uma — Atlântida afogada,
no fundo do fundo do peito escuro.
Igor Buys,
17 de agosto de 2013
In "Versos Íncubos"