LAKSHMI
A mulher de quatro pernas
de quatro seios,
a mulher de duas bocas
de dois gemidos
não me sai da cabeça.
Como é imensa e suficiente
a sua carne vasta, de duas cores;
como é perfeito o arranjo
de seus impudores.
Eu quero de novo,
e de novo, a mulher de quatro
quartos, doze umbigos
de trinta e três posições
invulgares, sem limites.
Só ela, amazona, giganta
me escraviza o apetite,
me liberta do mesmo
niilificado, morno.
Quero sem culpa
quero sem termo
a mulher centopéia,
filha de Shiva e Aracne,
descomplicada e perdida,
perdida e orientada
pela bússola do caos,
mais nua que a nudez una
sobre a nau do Ragnarök,
anal e quadrúpeda,
antropoteomórfica,
desantropoteleológica,
infinita, infinita
Eu quero de novo
a mulher maldita,
na sua santa piedade
do macho entronizada,
telúrica, xamânica,
vulcânica, lunática
Ela que tem a grande
vantagem de sequer ser ela,
na sua modularidade
intrínseca e sublime,
e ainda assim ser a própria,
a imensa, a imponderável
Eu quero viver o amor
dos anjos e dos golfinhos
Ai, eu quero de novo tuas
ancas de bronze e marfim;
não me abandones na noite!
como não fôramos trinos...
Igor Buys
26 de março de 2011
In "Versos Íncubos", ed. Scortecci, 2014
Agatha Warmling e outra
