GATA SELVAGEM
Como uma cascata de sombra e aurora desembaraçando-se da bruma argêntea, rumando para um Lago Trasimeno*, assim sangram os teus cabelos dolorosos, tragicamente. És uma gata selvagem, rubro-negra e esquiva, de pele alva, lunar; tens a alma de um vulcão a estrondar dentro de ti e a transbordar-te violenta.
A filha do Ragnaröc, de meias negras, rasgadas, de botas agudas, brilhantes, a pisotear escombros, cruelmente.
Entanto o teu sorriso é angélico. Todo o teu corpo tem a cor que, em geral, só conhecem os seios e os botões mais tímidos e noivos. Há algo de materno, docemente lácteo a irradiar-se como um clarão por entre as garras, armaduras e gládios da Fera.
Uma Joana do Arco incendiada entre as próprias chamas; meio bruxa, meio santa — inteiramente feita de loucura.
Igor Buys In 'Versos Íncubos'
____________ *Alusão à batalha do Lago Trasimeno (217 a.C.).
Mélissa Polito
