FALAR A ELA
Falar a ela
que há uma saudade amiga, uma saudade
antiga,
mais antiga que o tempo que nos separa.
Falar a ela
que os seus olhos me acalmam, suavizam;
que no meu sonho, se agigantam e posso
nadá-los flutuá-los; mergulhar e descobrir
um caverna de algas, uma moréia sinu-
osa uma dançarina espanhola. Uma estrela.
Falar a ela:
precisamos nos ver: para além ou aquém
do balanço verde dos versos, nos tocarmos,
nos afogarmos num olhar enorme…, enorme:
retido, represo: um olhar ensurdecido
de palavras tantas que se as não pode
reduzir, desvencilhar: diamante
infrangível que o tempo fez híbrido
da pedra e da luz, gêmeo do fogo e do gelo.
Falar a ela:
precisamos amar. Precisamos deixar que
a aurora nos flagre nus e ébrios de pólen
como uma falena que se debate ao chão
e é iminência de vôo, plenitude e clarão.
Precisamos amar. Falar a ela. A vida nos con-
vida, já não é de hoje: Deus sabe,
o agosto sabe; sabem as gotas cintilantes
da chuva e nenhuma delas conhece culpa.
Igor Buys
Ilha Grande, 01 de agosto de 2018
