O TOURO, A ROSA E A NÃO-VIOLÊNCIA
O touro não sabe a violência.
Ele nada viola, nada limita, cristaliza
dentro de si.
Não odeia o toureiro,
não quer defini-lo;
não quer trespassá-lo, senão à muleta:
o perigo, a tarefa.
O touro não viola o ser-touro-in-totum.
Muito menos violaria o que mal enxerga.
O touro come a erva, cobre a fêmea.
Protege o pasto, seu território,
o de sua prole.
No seu âmago, a imagem trêmula,
rubescente: desperta o impulso.
E o impulso flui sem violência, puro.
Cascos trovejantes, vapores
e nenhum temor de ser-aí, até o limite
— transtemporal.
O touro é como a rosa rubra
que apenas se abre: se completa
e ao depois já nem é rosa
(o que fica)
enquanto a rosa mesma
veste o véu da alvorada.
Igor Buys
16 de julho de 2011
Picasso; "Touro Negro" - dsenho