DENSIDADE E SUTILEZA – PRIMEIRO PASSO
1/8 - Sutil é, exatamente, a aparência, o fenômeno (φαινόμενον): a imagem, ou signo. Defino a imagem, ou fantasma como — a quase não coisa.
2 - Principiemos esta digressão vertical por um axioma: toda imagem, ou fantasma sensível, é um — signo e todo signo é uma imagem, ou fantasma.
3 - Disso deriva que metafísica e semiologia sejam uma única e mesma ciência. Ora, a coisa em si, ou melhor: o em-si das coisas é incognoscível.
4 - Pois conhecer é, primeiro: apreender pelos sentidos; depois, inteligir ou: representar. E, num terceiro ato, reconhecer — ato este coletivo.
5 - São, destarte, três as operações da cognição: a percepção, a apercepção e o reconhecimento. A primeira prescinde de um eu: é o sentir puro.
6 - I.e., o sentir independente de alguém que o conheça como algo sentido. A segunda flagra em nós a — partícula proprioceptiva do Eu profundo.
7 - Só posso me aperceber de algo em relação a mim. Mesmo um sentir. Ponho-me consciente de algo que me afeta, o referindo a um eu sito AQUI.
8 - A representação desse eu é uma imagem, ou signo que não deriva de qualquer dos sentidos externos, mas da propriocepção, um sentido interno.
9 - Dizemo-la uma partícula e um átomo por ser a densa, indivisível menor parte do eu e o tijolo fundamental de toda a sua complexa anatomia.
10 - Trabalhando com a mais importante tricotomia peirceana, diremos que tal signo, ou imagem é um — índice; não um ícone, tão-pouco um símbolo.
11 - Um índice é um signo que representa algo através de uma relação de contigüidade; e.g., uma seta, que aponta um caminho. Ou um cata-vento.
12 - O fantasma do Eu profundo é uma seta a apontar para algo que, por força, precede espaço e tempo, estando sito num τóπος absoluto: o AQUI.
13 - Tal signo, ou imagem, essa seta, é fundamental para entendermos o processo de empatia, pois vem a ser o que chamaremos adiante: identidade.
14 - Por ora, aceitemos que a identidade, quando usada, primo, no ato da apercepção pelo recém-nado, funda neste o átomo do eu-individual.
15 - Já o ato do reconhecimento depende da cooperação de todos os que constroem, ao longo do tempo, a linguagem e a cultura, e se chamam — nação.
16 - A nação, ou indivíduo cultural e lingüístico, vive em todos e em cada qual dos indivíduos físicos, naturais e se constitui num: eu-coletivo.
17 - Por isso, lançando mão de mais um axioma, diremos que não há verdades internacionais ou mesmo individuais, senão apenas verdades: nacionais.
18 - Reconhecer é subsumir algo num esquema, termo kantiano, cultural e linguístico, acréscimo nosso, de modo a lhe atribuir um — significado.
19 - O significado é um conjunto, em geral, amplo de imagens imbricadas; o seu tecido pode vir a ser imensamente complexo, porém é de todo sutil.
20 - O em-si das coisas, a “res”, é interna e externa; se situa para aquém e para além dos objetos mundanos, fantasmáticos: a quase não-coisa.
21 - Assim, se as coisas AÍ quase não são coisas, é porque são o produto — poético da cooperação do sujeito, o eu-coletivo, com o eu-individual.
Igor Buys
2016
Reprodução: Mark Rothko
