OBSOLESCÊNCIA DA FIGURA DO VELHO PROFESSOR E RAIAR DA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA, DA UNIVERSIDADE ABERTA
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5 - O que eu penso desses títulos? Hoje, se não forem adquiridos através de universidade aberta, não valem nada: absolutamente nada.
6 - Já adquiridos, ao menos em parte, através da universidade aberta, tornam-se, quando menos, o sinal de um pacto com o progressismo.
7 - Progressismo especificamente acadêmico, ou pós-acadêmico: a Academia surge, no vale de Academus, como uma iniciativa protofascista.
8 - Trancafiar o conhecimento entre paredes; torná-lo privilégio de uma facção, a pederástica, renegando a Sofística, a Física: todo o "resto".
9 - I.e., renegando o conhecimento poético-supositivo, que apenas é retomado, progressivamente, nos séculos XVIII, XIX e XX.
10 - Sobre o resultado dessa retomada é necessário dizer muito pouco: o avanço tecnológico que a segunda pós-modernidade traz é acaçapante.
11 - (A primeira pós-modernidade é declarada por Kant: sapere aude; a segunda vem com o positivismo; a terceira adentra agora, aos poucos).
12 - Posto de lado o racionalismo pederástico, os-homens pisaram a lua, trouxeram de volta espécies extintas e solucionarão os problemas sociais.
13 - Entanto a tecnologia explode ainda entre quatro paredes; o conhecimento permanece todo esquartejado em setores incomunicáveis.
14 - A universidade tem de ter paredes pra manter os socialmente excluídos do lado de fora até mais que pra aprisionar e — enformar os educandos.
15 - Mas com as alvas da terceira pós-modernidade, a pós-modernidade ou contemporaneidade plena, essas paredes, enfim: estão ruindo.
16 - O ensino, dentro desse novo quadro, vai poder, cada vez mais, ser — aná: dirigido a cada um, especificamente, ao invés de ser uniforme.
17 - Quem apresentar aptidões para um campo de estudos, deve receber instrução e avaliação focada, sobretudo, nesse campo.
18 - E apresentando dificuldades noutro campo, deve tê-lo, progressivamente, reduzido da sua grade individual, personalíssima.
19 - Isso conduz à superespecialização, ao invés de resgatar os ideais do homo universalis e da cultura geral? Não, absolutamente!
20 - (Esses ideais, inclusive, estão relacionados ao surgimento da universidade, cuja filosofia é quase oposta à da Academia platônica).
21 - Favorecendo a autodeterminação dos indivíduos, que deve ser a meta única da educação, se estará privilegiando as diferenças.
22 - E permitindo que qualquer vocação seja aplaudida, valorizada, direcionada, desde o seu nascedouro, pra poder merecer pagamento justo.
23 - Enquanto dirigir-se um caminhão de lixo for uma atividade necessária, essencial, quem tem vocação e aptidão pra fazê-lo deve ser bem pago.
24 - Deve ser prestigiado socialmente no mesmo grau de qualquer outro vocacionado. E isso a tecnologia unida à educação aberta pode garantir.
25 - Ao velho professor, esse Australopithecus cheio de vícios e manias, muitas vezes toxicômano, muitas vezes lunático, a tarefa é impossível.
26 - Mas não a um sistema de ensino aberto, altamente tecnológico e voltado, de todo, ao desenvolvimento humano.
27 - Ao invés de ser voltado à formação para o mercado, que leva todos a quererem os mesmos cursos e carreiras, com ou sem vocação.
28 - Daí se tem médicos diplomados que são péssimos médicos; bem assim, advogados, engenheiros, juízes, políticos, militares, policiais.
29 - A carência não é de formação; é, muito mais ampla e filosófica: é de direcionamento das individualidades no sentido da autodeterminação.
30 - No sentido da liberdade, portanto. A carência é de valorização da biodiversidade humana no plano dos indivíduos físicos.
31 - E quem pode resolver isso são os educadores, preparando sistemas à distância direcionados aos indivíduos, e não o velho professor obsoleto.
32 - Aquele que faz ajoelhar em grãos de milho, expulsa das salas, dá as notas que bem entende, sem sofrer qualquer fiscalização estatal.
33 - Conquanto ligeiramente sensacionalista, vale gritar, a titulo de provocação, o lema seguinte: Abaixo o professor e viva o computador!
Igor Buys
27 de maio de 2013 Twitter: @IgorBuys
Henrique da Alemanha dando aula na Universidade de Bolonha; Laurentius de Voltolina