ANTICONSUMISMO ILHÉU E A CASA DO ZIRALDO
Vendi minha máquina de lavar para dona Mariana Neder.
Dona Marina Neder, lá casa do Ziraldo,
afilhada do cartunista
Meio bússola, meio relógio,
a casa do Ziraldo aqui é um marcador
do tempo e do espaço:
as coisas se localizam antes ou depois,
para cá ou para lá da casa do Ziraldo
Na Ilha, todo mundo é comerciante:
todo mundo tem alguma hospedaria,
suítes, quitinetes,
pousadas, campings,
hostels, casas de veraneio
E todo mundo compra eletrodomésticos,
mobília usada. É que trazer do continente,
de barco, se vê: dá trabalho e custa caro
Usados então valem preços de novos!
Uma ínsula de anticonsumismo,
nada se perde, nada se cria na Ilha Grande!
Tudo se recicla, se reinventa;
tudo se repara e reaproveita, e assim se engana
o tempo, se trapaceia a morte
(A morte das coisas, é claro,
que gente, ora: gente não morre coisa nenhuma)
Vendi minha lavadora de roupa para dona Mariana
ali da casa do Ziraldo.
E olha que a bicha fazia lá uns barulhos:
correia ressecada, se disse. — É só lubrificar!
E já o vejo, enfim, ao branco aparelho singelo,
eternizado em guaches,
dobraduras, origami,
minha máquina de lavar entre as paredes de crepom
da casa do Ziraldo.
Igor Buys
Ilha Grande, 15-12-2017
Atividade comunitária na casa do Ziraldo, na Ilha Grande; vídeo da Rede