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SE DEUS FORA MULHER e SALMO

Versão nossa de “Si Dios Fuera Una Mujer”,

de Mario Benedetti

Se Deus fora mulher

É possível que, agnósticos ou ateus,

Não disséssemos não com a cabeça,

Mas disséssemos sim com o baixo ventre.

Talvez nos acercássemos de sua divina nudez

Para beijar seus pés, não de bronze,

Sua púbis, não de pedra,

Seus seios, não de mármore,

Seus lábios, não de gesso.

Se Deus fora mulher a abraçaríamos

Para arrancá-la das distâncias

E não haveríamos de jurar

Até que a morte nos separe

Já que seria imortal por antonomásia

E ao invés de transmitir pânico ou AIDS,

Contagiar-nos-ia com sua imortalidade.

Se Deus fora mulher não se instalaria

Distante no reino dos céus,

Mas nos aguardaria no saguão do inferno

Com seus braços, não cerrados,

Uma rosa, não de plástico,

Um amor, não de anjos.

Ai, Deus meu, Deus meu!

Se para sempre, e desde sempre,

Foras uma mulher,

Que lindo escândalo seria!

Que bem-aventurada, esplêndida, impossível,

Prodigiosa blasfêmia!...

​​

24 de abril de 2014

 

SALMO Eu me orgulho, ó Deusa, profundamente, Dos momentos em que sinto que preciso E dependo de tua mão e teu consolo, Pois nestes momentos, mais que nunca, Eu me percebo feito para amar-Te e reconheço Dentro de mim a melhor parte do que sou. Sou feito para amar-Te e carecer de Ti E nisto encontro escusa para ver-me por vezes Tão confuso e aturdido diante das agruras Deste mundo, oblíquo mundo, insano e torpe; Mas se clamo o nome teu, Deusa minha, Dentro do negro silêncio que me envolva, Tua mão me chega à face e o seio teu me aquece Na noite cega de meus surdos desenganos. Quando estou fraco, então é que sou forte. Minha fraqueza soergue o escudo das montanhas, O pranto meu desfralda a espada ignescente Do relâmpago que estronda e rasga a terra; Minha palavra caminha mais que o vento E o golpe de meu braço é como o tombo [de um carvalho, Porque Tu estás em mim e o amor de Ti Faz-me pequeno e grande como a chuva... O amor de Ti referve em mim, ó Deusa Como o sangue de um leão dentro de humano corpo. Eu, deveras, confesso que me orgulho, Com soberba que rogo me perdoes, Do amor de Ti que justifica a minha alma E faz-me carecer de tua mão e teu consolo. Não morra eu por orgulhar-me de tal sina E haja perdão para a soberba de Te amar. Igor Buys

Versos Íncubos, 2014

Giovanna Furletti; foto roubada

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