DEIXA-ME ADENTRAR O TEU SONHO ESTA NOITE (POT-POURRI No. 4)
Deixa-me estar no teu sonho esta noite.
Teu sonho que se abre em ti como a rosa
do cristal-de-rocha alheio à escuridão.
Teu sonho, portal e carne de tua alma,
deixa-me penetrá-lo, amor, esta noite.
Vou usar-te, hoje, para escrever poesia.
Porque esse é o papel das musas, enfim,
e o dos poetas, queiramos ou não.
Sim: entre os poetas, há os que
não falam de amores, nem de musas,
mas no fundo têm as suas: sublimadas.
São idéias, são clamores. São mulheres.
Toda idéia é uma mulher, e musa.
Toda volúpia é Eros, o Protógonos,
indo ao coito das possibilidades
seminais, semanticais: que dão frutos.
Deixa-me adentrar o teu sonho esta noite.
E que seja um sonho sobre amanhãs e verões,
sobre coisas simples e boas, possíveis e nossas.
Os lábios com gosto de café com leite,
a nuca suada, a língua sequiosa, o riso frouxo.
Eu não te esqueço; por que o faria se és musa,
se te doas de graça ao pólen dos poemas, tantos?
Vou permanecer te usando assim e podes,
simplesmente, não ler o que nasce de nós dois,
o que brota do teu mistério e dos meus semas
incandescentes. Podes apenas não lê-lo, ora.
E isso será fácil. Não?...
Deixa-me viver no teu corpo esta noite,
pulsar nas tuas veias, ser mel e sal em ti,
passear pelo teu quarto, como um vulto...
E, enfim, espasmódico, nascer do teu âmago
de mistura à manhã hibernal e morna.
Eu quero te deitar no lençol de um rio
que corre encantado ao mar de tuas formas.
Igor Buys
30 de janeiro de 2017
Pot-Pourri No. 4 (DEIXA-ME ADENTRAR O TEU SONHO ESTA NOITE, IMO ESPELHO e SÓ NÓS SABEMOS, OS POETAS E AS MUSAS...)
In Versos Íncubos; 2014
Foto roubada da modelo Kristiana Pelše
