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PERNILONGO

O pernilongo do meu verso foi zunir no teu ouvido. Noite adentro sibilando, se esquivando do teu tapa, insistindo em rondar louco tua inerme, ronronante figura.

O pernilongo do meu verso. O pernilongo do meu verso. O pernilongo do meu verso.

No inverso da cena, tua alma vai mudando esse bicho feio em algo menos mesquinho. E, se ele, mosquito, morde o vermelho do teu lóbulo (ai!) onde estás, seu veneno é doce.

Meu verso Cyrano, narigudo.

No teu sonho, quiçá, é príncipe.

Meu verso é magro, pequeno.

Venenoso, amavioso. Vampírico! Merece bem o golpe que o não alcança, o não esmigalha (ah, bem o merece!) Mas tua palma que o erra, picada,

o encerra nas veias, e já trans-

pira, umectada de sal, de pólen:

mel que é teu, é nosso;

é filho do dia ambarino,

caudaloso a desabrochar.

Igor Buys 28-04-2014 / 08-01-2017

No meu primeiro apartamento, na Barra da Tijuca, aos trinta e um,

com a cadela Samantha, matriarca da matilha de Rotts que viria a ter.

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