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TAÇA

Eu sou como uma crisálida, intumescida de explosão e vôo, a latejar, a me esforçar retesado, pela tua carne adentro, e mais adentro, além, e mais além; a buscar as cores em caleidoscópio que refervem no teu imo, na foz do teu sonho; adentro, e mais adentro; mais fundo, mais forte; (ânsia, suores, sussurros, cum- plicidades explicitamente implícitas); resfolegar de animal em galope, vou-me eu, centauro a desembestar-me

rumo ao momento da separação: metade animal em bruto, metade alma nua, e todo voragem, todo galope, todo procura, cadência e candência.

Como o reverso do parto é a minha invasão alucinada: sou um cruzado de espada em riste, bárbaro, apaixonado, ébrio do amor e sua Roma, sequioso do teu âmago, de me arrojar para -- a Taça, a Taça oculta no mais sagrado, meta- físico recôndito da tua linda arquitetura: Santo Graal verdadeiro! E enfim regressar ao antes do instante primordial, ao pré-momento, absoluto, para desnascer, para trasmorrer, para me esvair exangue, caudaloso, magmático, pelos teus arcanos, teus órgãos mágicos, teu sangue, tuas veias e gretas e grutas. No útero da noite, me fundir à cegueira, ao Clarão opalino... e desmaiar no teu corpo, esse teu corpo trespassado, revirado, -- ai, adorado! que, enfim, me devora, qual planta carnívora, me dissolve a mim: abelha grelha centelha... Silêncio gris.

Igor Buys 02 de janeiro de 2017

Kristiana Pelse; foto roubada

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